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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Violência e sexo... Ou qualidade nos games?




Antes de continuar lendo este texto, vá até a sua prateleira de jogos e conte quantos títulos voltados para o público adulto existem lá. Caso você esteja próximo da idade média dos jogadores mundo afora (algo acima dos 30 anos de idade), é bem possível que exista uma boa quantidade de títulos abarrotados de sexo ou violência. A resposta fácil seria: títulos com conteúdos potencialmente imorais vendem melhor, em razão do apelo óbvio. Mas não parece ser exatamente esse o caso.
De fato, é necessário reconhecer que a indústria de games nunca vendeu tanto conteúdo adulto quanto atualmente. Conclusões subjetivas à parte, é exatamente isso que mostram os dados do ESRB (órgão de classificação etária) relativos aos títulos avaliados e lançados durante 2010. Confira o gráfico abaixo:

"Como assim, apenas 5% são títulos adultos?” Sim, mas um rápido cruzamento de dados pode revelar uma tendência interessante. Embora representem uma fatia relativamente pequena da pizza do ESRB, fato é que uma parte substancial das vendas em 2010 foi composta por títulos capazes de deixar os mais sensíveis corados ou enojados. Basta conferir a lista dos dez jogos mais vendidos em 2010 (abaixo) para perceber que cinco posições são ocupadas por jogos maduros.
  • Call of Duty: Black Ops
  • Madden NFL 11
  • Halo: Reach
  • New Super Mario Bros. Wii
  • Red Dead Redemption
  • Wii Fit Plus
  • Just Dance 2
  • Call of Duty: Modern Warfare 2
  • Assassins Creed: Brotherhood
  • NBA 2K11
De fato, vale ainda o mesmo raciocínio quando se contabilizam os jogos que venderam mais de um milhão de cópias no referido ano. “42 jogos venderam mais de um milhão de cópias em 2010, e desses, 27 eram E ou E10+; três eram Teen e 12 eram Mature [para públicos maduros”, afirmou a analista do NPD Anita Frazer ao site Arstechinca. De fato, mesmo representando apenas 5% do total de jogos avaliados pelo ESRB, é óbvio que, relativamente, jogos maduros tem mostrado um desempenho comercial superior... Mas o que poderia justificar essa “anomalia”?

Violência e sexo... Ou qualidade?

Jogos bons vendem mais

Em 2009, algumas varejista no Reino Unido deixaram parte da população estarrecida. Eis o motivo: as lojas venderam jogos indicados aos públicos adultos para um sujeito de 14 anos que trabalhava disfarçado, justamente para levantar quantos comerciantes realmente levavam a classificação etária a sério. Por fim, de todas as lojas visitadas pelo adolescente, apenas quatro se negaram a vender o conteúdo moralmente ofensivo.
Ok, não se trata aqui de fazer apologia à venda de jogos adultos a adolescentes ou pré-adolescentes. Mas existe algo que é fato: essas pessoas normalmente dão um jeito de conquistar seu Call of Duty ou seu Grand Theft Auto. Seria simplesmente para garantir uma boa dose de violência e sexo semiexplícito? Não parece ser o caso.



Senão, volte rapidamente à lista dos títulos mais vendidos em 2010 (início deste texto). Sim, trata-se de títulos que se destacam entre uma imensa maioria de jogos recomendados para quase todas as idades, e certamente são jogos que contém algo de moralmente questionável.
Entretanto, além disso, coincidentemente, muita gente teria dificuldades para apresentar grandes defeitos em jogos como CoD: Black Ops e Assassin’s Creed: Brotherhood. O motivo para isso parece ser bastante simples. “O que essas boas vendas e essa avaliação nos diz? Coisas que nós já deveríamos saber: a histeria em torno da ideia de os video games destruírem a fibra moral da juventude americana é obviamente exagerada, e ninguém vai a uma loja pensando ‘eu vou comprar um jogo Mature hoje’!”, destacou um artigo do site Techland.






O redator continua: “assim como nos filmes, nos livros e na música, as pessoas tomam decisões de compra com base em conteúdo e qualidade.” Em outras palavras, é possível imaginar que jogos como Halo: Reach e Red Dead Redemption vendam simplesmente... Por que são bons.

                      Diversão casual = profundidade casual?

                         Três vivas à liberdade para explorar temas!

                     
Concluir que qualquer jogo dito hardcore apoia-se em um universo imoral para construir uma experiência de jogo válida seria, é claro, apressado. De fato, não é difícil encontrar abordagens profundas e interessantes que trabalhem dentro de um limite moral razoável — basta se lembrar de Super Mario Galaxy ou mesmo da franquia Final Fantasy.
Entretanto, parece difícil negar que a liberdade no tratamento de temas supostamente “imorais” ou “adultos” concede aos desenvolvedores certo espaço de manobra, permitindo a composição de cenários mais ricos e variados. GTA, por exemplo. O blockbuster maior da Rockstar vendeu horrores ao longo da sua história porque permitia que o jogador saísse com prostitutas virtuais e espalhasse sangue pelas ruas infringindo leis de trânsito? Talvez.
Entretanto, quem negaria que as possibilidades de toda uma cidade livre à exploração e cheia de histórias possíveis ajudou a compor o apelo das histórias de Tommy Vercetti e Cia. — além de dar origem a um novo gênero de jogos, o sandbox? Ou será que você só deixou de pular sobre plataformas e atirar em monstrinhos voadores durante algum tempo porque vislumbrou a possibilidade de sair atirando em um carro de polícia enquanto atropelava pedestres indefesos?


Enfim, ao que parece, os aficcionados por games não buscam doses cada vez maiores de violência e imoralidade, mas sim qualidade e uma experiência tão profunda quanto duradoura — algo que normalmente não recebe muita atenção de um público mais voltado para doses de diversão ocasional e descomprometida.
Do contrário, provavelmente seria algo como reduzir as tiradas engraçadas e a trama bem urdida de algo como Red Dead Redemption à simples necessidade de descarregar um tambor de revólver em outro ser humano. Não... Esse definitivamente não parece ser o caso.

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